A ocupação das mulheres na comunicação esportiva no Amazonas

A entrevista com Suelen Gonzaga destaca os desafios enfrentados por mulheres na comunicação esportiva no Amazonas, sua trajetória pioneira como narradora de futebol e a importância da mídia na promoção da equidade de gênero no esporte.

A luta das mulheres pela ocupação de seus espaços é global, mas no Amazonas essa luta no meio do esporte é marcada por histórias de superação e conhecimento. Em um estado onde o esporte é visto muitas vezes como um território predominantemente masculino, a presença de mulheres nesse cenário tem sido fundamental para promover a equidade de gênero e ampliar o diálogo sobre a importância da participação feminina, tanto como atletas quanto como comunicadoras.

Uma das grandes responsáveis por essa mudança no Amazonas é a radialista Suelen Gonzaga. Com sua voz marcante e seu olhar atento para o universo esportivo, Suelen vem se destacando ao quebrar barreiras em uma área tradicionalmente dominada por homens. Neste final de semana, ela realizará sua primeira narração de futebol, um marco em sua trajetória que reflete a crescente inclusão das mulheres no cenário esportivo local. Sua dedicação e pioneirismo não só representam a luta por espaço e reconhecimento dentro da mídia, mas também inspiram outras mulheres a ocuparem seus lugares nesse campo.

Na edição desta semana, a Talk2me conversa com Suelen sobre sua experiência, a evolução da ocupação feminina nesse setor no Amazonas e os desafios que ainda precisam ser enfrentados.

TALK2ME: Quais os principais desafios que você enfrentou como mulher na comunicação esportiva? Há algum desafio particular para as mulheres que querem seguir nesta área no Amazonas em comparação com outras regiões do Brasil?

SUELEN: Eu estou entrando agora nesse mundo da comunicação esportiva. Até então eu fazia entretenimento, outro tipo de jornalismo, mas o esporte é a primeira vez. Eu ainda não me deparei com situações de machismo, porque é o que a gente ouve falar muito e a gente sabe o que acontece com a maioria das mulheres ou todas as mulheres que fazem a comunicação esportiva. Já ouvi muitos relatos, inclusive a Larissa Baliero, que é referência no esporte aqui no Amazonas, já me contam muitas histórias de muito preconceito que ela passou para chegar aonde chegou. Até então eu tenho recebido muito acolhida. No meio, pelo grupo que eu estou trabalhando hoje, que é o Sistema Encontro das Águas, mas ainda não tive nenhuma situação pontual de intempéries ou de machismo ou de preconceito. Ainda não, mas eu sei, estou preparada para isso, porque eu sei que vai acontecer muito. Depois que a gente estrear na narração, principalmente eu sei que vai acontecer muito, porque a gente sabe que infelizmente é uma sociedade machista que ainda vivemos.

T: Você será pioneira como a primeira mulher a narrar um jogo de futebol na TV do Amazonas. Quais obstáculos as mulheres ainda enfrentam para ocupar esse espaço?

S: A evolução ainda é pequena para o trabalho que a gente está fazendo, mas é como eu falei anteriormente, alguém precisa fazer. E aqui no Amazonas, se a gente for parar para olhar, só existe uma pessoa, uma mulher que fala de esporte, que fala de comunicação esportiva, que faz esporte, que acompanha os jogos, que é a Larissa Balieiro. Ela é a referência no Amazonas de comunicação esportiva, ela está dentro de campo, então você vai olhar quem mais faz. Não tem, né? Eu pelo menos não conheço. Se tem, é muito pouco. Até dentro de campo das reportagens, quem faz são os homens, porque parece que esse foi um papel que foi incluído para eles, que foi feito para eles. Eu acho que a gente precisa caminhar muito ainda, e o sistema Encontro das Águas está abrindo esse leque, ele está abrindo essa porta para que as mulheres cheguem. Hoje são poucas. Pouquíssimas, muito raro você ver uma mulher fazendo reportagem esportiva. Você vê, mas é muito superficial. Eu acho que a gente precisa de mais. Eu acho que os jornais, as mídias, enfim, no total, ela precisa evoluir muito, muito.

T: Em sua opinião, qual o papel da mídia na promoção da equidade de gênero no esporte?

S: O papel da mídia é primordial, a gente precisa que a mídia fale sobre as mulheres no esporte, tanto elas como atletas, como quem comunica o esporte, quem faz a comunicação esportiva. A mídia é o papel, eu acho que tem o papel fundamental nisso tudo, porque se mostrar, se falar que temos aqui times de futebol para mulheres gigantescos, inclusive com atletas que estão hoje na seleção brasileira. Nós temos duas amazonenses que estão à disposição da seleção brasileira de futebol feminino. E a gente não vê a mídia falando tanto sobre isso. É uma notícia pontual, uma aqui, uma ali, mas explorar isso não tem sido explorado como deveria ser. A começar pelas atletas, pelas mulheres que fazem o esporte, que fazem o esporte acontecer de dentro de campo. E as mulheres participarem mais também, eu acho que falta às mulheres participarem mais na comunicação em todo, inclusive já fica aí até uma dica para as mulheres, claro que se interessarem, que é um mundo apaixonante, eu pelo menos venho de uma outra área da comunicação e estou entrando nessa comunicação esportiva agora, é um mundo apaixonante, depois que você entra você não consegue mais sair porque te toma de uma forma que se as pessoas verem isso, se as pessoas dividirem isso com o grande público, tanto TV’s quanto portais, as mídias de uma forma geral, mostraram isso, eu acho que a gente vai evoluir muito e o nosso estado tem um grande potencial para isso.

A ocupação das mulheres na comunicação esportiva no Amazonas demonstra avanços importantes, mas ainda enfrenta desafios como preconceitos e a busca por maior representatividade. Trajetórias como a de Suelen Gonzaga mostram que, com preparo e resiliência, é possível inspirar outras mulheres e transformar esse cenário em um espaço mais inclusivo.

Por: Everton Maciel, Isabelly Mota e Maria Juliane Brito.

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