Ao longo dos seus 97 anos, o Oscar não premiou nenhuma mulher latina, e apenas cinco foram indicadas na categoria de melhor atriz. A primeira foi a brasileira Fernanda Montenegro em 1998, seguida da mexicana Salma Hayek, em 2003, e da colombiana Catalina Sandino Moreno, em 2005. Depois as mexicanas Yalitzia Aparicio e Marina de Tavira foram indicadas na categoria em 2019 por protagonizarem o filme Roma.
O porto-riquenho José Ferrer foi o primeiro latino a ganhar o Oscar na categoria de melhor ator em 1951 por sua atuação no filme Cyrano de Bergerac. Anos mais tarde, os mexicanos Anthony Quinn e Demián Bichir foram indicados na categoria, porém nenhum deles ganhou. Em 2014, o mexicano Alfonso Cuarón foi o primeiro a ganhar o prêmio de melhor diretor, pelo filme Gravidade e 4 anos depois ganhou pelo filme Roma. Logo depois, por dois anos seguintes, o diretor mexicano Alejandro González ganhou a estatueta pelos filmes Birdman e O Renascido. No entanto, após esses anos, nenhum(a) latino-americano(a) ganhou ou foi indicado nas categorias principais ou de coadjuvantes.
Na edição desta semana, a Talk2Me conversa com o jornalista, Diretor de Programas na TV Ufam e Editor-Chefe do Portal CineSet, Caio Pimenta, sobre a ausência da representatividade latino-americana no Oscar, os fatores que contribuem para essa lacuna e os desafios para ampliar a visibilidade da região na maior premiação do cinema mundial. Confira a entrevista:
Talk2Me: Quais são os impactos para a imagem do Oscar quando talentos latinos são frequentemente ignorados ou sub-representados nas indicações?
Caio Pimenta: O Oscar reflete a indústria do cinema, em especial, a norte-americana. Logo, a ausência de indicados latinos mostra um gargalo de oportunidades para artistas vindos dessas regiões. A Academia vem sendo cobrada nos últimos anos por maior diversidade e tenta responder isso a cada edição, ainda que longe do ideal.
T: De que forma a ausência de representatividade latina impacta o público latino-americano e sua relação com a premiação?
C: Hollywood e tudo que a envolve, incluindo o Oscar, possui um domínio cultural, econômico ainda grande demais na América Latina. O interesse do público daqui na premiação permanece ainda que não seja tão intenso como décadas atrás – o mesmo ocorre nos EUA. Paralelo a isso, noto uma criticidade e cobrança maior dos latinos em relação à representatividade e à falta dela no Oscar.
T: Quais exemplos de filmes ou profissionais latinos você acredita que foram injustamente ignorados pelo Oscar e porquê?
C: Falando de atuação, Ricardo Darin poderia já ter uma indicação assim como a Daniela Vega do chileno “Uma Mulher Fantástica”. O próprio cinema brasileiro teve grandes obras recentes de altíssimo nível que sequer passam no radar do Oscar, entre eles, “Malu”, “Marte Um” e “Carvão”. Para mim, será muito legal se o Brasil ganhar um Oscar, mas, não é a estatueta da Academia que valida o cinema brasileiro e de nenhum outro país.
Por: Emili Correa, Jaqueline Aparicio e Mariana Manso.