Gerenciamento de Crise em Posicionamento Político: percepções de uma relações-públicas para organizações e figuras públicas

Em um mundo onde informações circulam na velocidade da luz, o gerenciamento de crise tornou-se uma habilidade essencial para organizações e figuras públicas. Esse processo envolve a identificação, a resposta rápida e a redução de impactos negativos diante de situações imprevistas que possam prejudicar a imagem e a reputação de uma pessoa ou organização.

Em setembro, a cantora Jojo Todynho usou suas redes sociais para se defender após ser vista posando em uma foto ao lado de Michelle Bolsonaro, a esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro. A cantora afirmou que é “mulher preta de direita”. Por conta do ocorrido, Jojo recebeu duras críticas da comunidade LGBTQIAPN+ que a acusou de traição e de usar a causa para lucrar em suas músicas e em toda sua trajetória até então.

Para mergulhar de cabeça nesse assunto, convidamos a Relações-Públicas, Gabrielle Peixoto, que compartilhou conosco insights valiosos e uma perspectiva profissional sobre o tema.

Confira a entrevista completa a seguir:

DROPP: Gabi quais são os principais passos que uma figura pública deve seguir ao enfrentar uma crise de imagem?

GABRIELLE: Em situações de crise eu acho fundamental seguir 3 etapas: a informação, a contenção e a análise. Na informação é a hora de entender o que de fato aconteceu, se a figura pública for o seu assessorado, é o momento de ter uma conversa clara e se estivermos representando uma empresa, a nossa função é checar os fatos e averiguar com todos os funcionários. Na contenção é a hora da ação, de se posicionar (quando necessário) e emitir uma nota, uma publicação e principalmente reparar o dano ou problema. E na análise é de fato um detalhamento sobre aquela situação, como impactou o planejamento, a reputação e quais as medidas futuras de reforço da imagem.

D: Como você avalia a crise de imagem de Jojo Todynho após sua declaração partidária?

G: Delicada, não há problema em demonstrar seu apoio político partidário, desde de que isto esteja alinhado com você, seu público e as suas parcerias. O que não foi o caso da Jojo que vinha seguindo outro posicionamento, tanto é que teve que remover um de seus clipes pois estava usando maiô com a estampa da bandeira LGBTQIAP+. Ou seja, não estava alinhada com sua nova postura e posicionamento. Jojo perdeu cerca de 100 mil seguidores, e provavelmente alguns contratos e parcerias, sabemos que ela foi desconvidada para a fashion week em São paulo e também para ser musa de escola de samba. Ela vai precisar se reposicionar em relação ao seu (novo) público.

D: Você acredita que a Jojo poderia ter feito algo diferente para minimizar o impacto negativo? O que você recomendaria?

G: Com certeza. Mas se fosse sútil não seria a Jojo, a personalidade dela é essa e ela gosta de impactar. Infelizmente esse posicionamento incisivo aumenta a repercussão negativa.

G: Antes de tudo, Jojo deveria ter avaliado seu público. Hoje, enfrenta críticas de ‘pink money‘, e, na minha opinião, é exatamente o que aconteceu. Desde o início, ela precisaria entender quem compunha sua audiência. Com o sucesso repentino de ‘Que Tiro Foi Esse?’, talvez não tenha tido tempo para isso, mas uma análise de público, com o suporte de sua equipe, teria sido fundamental. Ao definir qual público deseja atingir, Jojo poderia ter feito uma transição gradual, ajustando parcerias e buscando novas colaborações alinhadas ao público que almejava.

G: Mudanças sutis no ambiente que frequenta, na identidade visual e no estilo de comunicação também seriam estratégias eficazes para essa transformação sem impactos bruscos. Embora Jojo tenha perdido muitos seguidores, atraiu uma nova audiência simpatizante de seu posicionamento político. Porém, esse novo público não encontra em seu perfil o conteúdo que consome regularmente, deixando-a em um limbo: o público antigo se distanciou, e o novo ainda não se conecta totalmente.

D: Quais são as lições que outras figuras públicas podem aprender com essa situação?

G: É essencial ser verdadeiro desde o início e fiel a si mesmo e ao seu público. Entrar em uma ‘onda’ ou aderir a temas do momento que não refletem sua personalidade pode até gerar resultados temporários, mas, eventualmente, quando o público percebe a inconsistência, a situação se torna insustentável. Por isso, é importante definir e conhecer seu público desde o início para evitar esse tipo de desgaste.

G: Uma dica valiosa para influenciadores é incluir um manual de gestão de crise em seu planejamento estratégico. Esse documento funciona como um preparativo para possíveis situações de crise, orientando sobre as primeiras ações de contenção a serem tomadas.

Conclusão:

O gerenciamento de crise em posicionamento político é um desafio crescente para figuras públicas e organizações em um mundo hiperconectado. A experiência de Jojo Todynho ilustra a importância do alinhamento de posicionamento pessoal e público para evitar desgastes com o público e perdas de parcerias. Segundo as relações públicas Gabrielle Peixoto, as orientações e o planejamento estratégico são fundamentais para uma comunicação consistente. Para figuras públicas, o entendimento do público e a construção de um manual de gestão de crise ajudam a enfrentar possíveis imprevistos de forma eficaz e assertiva, preservando a imagem e construindo uma relação de confiança com a audiência.

Por: Janaina Rodrigues, João Lucas, e Maria Eduarda.

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